Relato em primeira pessoa de sobrevivência ao bombardeio israelense de al-Mawasi em Gaza
ENSAIO
A maioria das pessoas estava dormindo quando as bombas israelenses abriram uma cratera de três andares de profundidade e iniciaram um grande incêndio.
Sou Tala Herzallah, 22 anos, do norte de Gaza.
Atualmente estou deslocado e hospedado em al-Mawasi. Isto é o que vi em 10 de setembro, o dia da explosão:
Estávamos todos dormindo. Então, de repente, tudo virou de cabeça para baixo – a cor do céu mudou.
A explosão ocorreu a cerca de 200 metros de distância.
A cena parecia um dos meus pesadelos, mas era a vida real.
O som, … os enormes danos causados pelas bombas, nos fizeram perceber que elas eram destinadas aos maiores edifícios e não às tendas feitas dos materiais mais fracos do mundo.
Eu vi duas cores – vermelho e cinza. Tudo ficou cinza [from the dust]e havia chamas vermelhas por toda parte.
O céu estava cheio de gritos, choro e som de ambulâncias.
Evitei olhar para os feridos. Tento tratar minha mente como um gravador, e estou tentando não registrar nada ruim.
Na noite anterior, eu estava olhando para o céu. Estava cheio de estrelas. Era muito romântico, nunca imaginei que abriria meus olhos para o oposto completo.
Agora, estamos literalmente cercados pela morte.
É difícil admitir, mas essa é nossa vida cotidiana agora.
Testemunhamos coisas horríveis e continuamos como se nada tivesse acontecido.
Todos nós temos essa sensação de que só nos restam alguns dias de vida. E é por isso que ainda estamos tentando e trabalhando duro.
Apesar de saber que posso morrer a qualquer momento, estou tentando terminar meu último ano na universidade. Estou fazendo o meu melhor para sobreviver e viver.
Estou com minha mãe e meu pai, mas meus irmãos não estão comigo.
Estamos tentando nos separar para que não desapareçamos todos em um segundo.
Um está no exterior e dois estão aqui – um em Deir el-Balah e o outro no campo de Nuseirat.
Famílias estão sendo completamente apagadas em uma bomba. É tão assustador.
Queremos que as pessoas possam contar nossas histórias.
Não há como eles se livrarem de todos nós. Esse é o nosso meio de sobrevivência.