Presidente colombiano chama jornalistas de “bonecas da máfia”
Bogotá, Colômbia:
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, está enfrentando críticas de grupos de liberdade de imprensa após alguns comentários feitos sobre repórteres, chamando-as de “bonecas da máfia” em um dos países mais perigosos para jornalistas na América do Sul.
Sem nenhuma ironia, Petro fez a declaração na posse, em 30 de agosto, da nova ombudsman de direitos humanos da Colômbia, Iris Marin — a primeira mulher a ocupar o cargo.
Petro, o primeiro presidente de esquerda do país sul-americano, sempre se irritou com as críticas da mídia, que ele acusou de conspirar com grupos armados, magnatas dos negócios ou outras figuras poderosas.
Alguns dizem que ele já foi longe demais em um país onde dezenas de ameaças e ataques de vários tipos são relatados contra mulheres repórteres todos os anos.
Em seu discurso, Petro criticou “as (mulheres) jornalistas do poder, as ‘bonecas da máfia'”, que, segundo ele, criticaram os protestos de 2019-2021 contra o governo de direita que o precedeu.
Petro, que era parlamentar na época, apoiou essas manifestações.
Não está claro por que ele tinha como alvo especificamente as repórteres.
As críticas foram rápidas, e Petro tentou explicar que estava falando de “jornalistas mulheres do establishment… contratadas por poderes obscuros” em uma declaração que pouco fez para acalmar a indignação.
Mais tarde, Marin disse que “não há espaço para estigmatização” de jornalistas mulheres na Colômbia.
“Nada justifica isso.”
‘Reforça estereótipos de gênero’
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) descreve a Colômbia como “um dos países mais perigosos do continente para jornalistas”, com dois assassinatos até agora neste ano.
A FLIP Press Freedom Foundation diz que as declarações de Petro estavam sendo usadas como base para conteúdo online “que é violento ou reforça estereótipos de gênero”.
A fundação relatou 171 casos de ameaças e ataques — cuja natureza exata não foi especificada — contra repórteres mulheres desde o ano passado.
Petro ocasionalmente destacou jornalistas com acusações que incluíam alianças com grupos paramilitares de direita para “desencadear um genocídio”.
“Observamos com preocupação um clima tenso para o trabalho jornalístico na Colômbia, exacerbado… pelas expressões excessivas de Petro”, disse Carlos Jornet, da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).
Petro não é o único líder latino-americano a ter uma relação antagônica com a imprensa.
Outros exemplos notáveis incluem o mexicano Andrés Manuel López Obrador e ex-presidentes como Rafael Correa, do Equador, e Jair Bolsonaro, do Brasil.
O comentário sobre as “bonecas” foi, no entanto, o primeiro ataque do líder colombiano a jornalistas com base em seu gênero.
“A estigmatização mata, encurta vidas, encurta sonhos, encurta carreiras…”, disse a jornalista e apresentadora colombiana Claudia Palacios em um vídeo enviado à AFP sobre os comentários de Petro.
Várias outras figuras da mídia condenaram as declarações que provocaram um acalorado debate online no país.
Procurada pela AFP, a presidência insistiu que “reconhece o papel fundamental que as jornalistas desempenham no fortalecimento da democracia e na construção do debate público”.
Na segunda-feira, Petro assinou um decreto — inédito nas Américas — que impediria servidores públicos — incluindo ele mesmo — de “estigmatizar” jornalistas.
Mas o que poderia ter sido um momento de reconciliação foi interrompido quando o presidente aproveitou o lançamento para mais uma vez mirar ninguém menos que a mídia.
Em seu discurso, Petro acusou jornalistas de difamá-lo por se defender de “calúnias” da mídia.
“Uma oportunidade perdida”, reagiu o diretor da FLIP, Jonathan Bock, após o evento.
Na terça-feira, uma petição foi protocolada no Conselho de Estado da Colômbia — o mais alto tribunal para questões administrativas — pedindo uma ordem para que Petro se desculpe por sua declaração sobre “bonecos da máfia”.
(Com exceção do título, esta história não foi editada pela equipe da NDTV e é publicada a partir de um feed distribuído.)