Freira brasileira recebe prêmio de refugiado da ONU
Irmã Rosita Milesi dirige uma rede nacional que ajuda refugiados em todo o Brasil e ajudou a moldar políticas públicas.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados entregará seu Prêmio Nansen anual a uma freira brasileira que se dedica há décadas a ajudar migrantes.
A agência da ONU para refugiados anunciou o vencedor na quarta-feira, elogiando a irmã Rosita Milesi por seu trabalho como “advogada, assistente social e construtora de movimentos” ajudando pessoas deslocadas internamente e apátridas há mais de 40 anos.
Milesi, de 79 anos, membro da ordem católica das freiras Scalabrini, “ajudou pessoalmente” milhares de pessoas, garantindo-lhes acesso a documentos legais, abrigo, alimentação, cuidados de saúde, formação linguística e mercado de trabalho, afirmou o ACNUR num comunicado.
“Se eu assumir algo, vou virar o mundo de cabeça para baixo para que isso aconteça”, disse Milesi, filha de agricultores pobres de origem italiana no sul do Brasil, que se tornou freira aos 19 anos.
O ACNUR destacou o trabalho de Milesi como advogado, dizendo que foi “instrumental” na definição de políticas públicas – nomeadamente a lei brasileira de refugiados de 1997, que ajudou a melhorar os direitos dos refugiados.
Milesi desempenhou um papel semelhante na lei de migração do Brasil de 2017, reunindo vários grupos e mobilizando legisladores.
Ela dirige o Instituto de Migração e Direitos Humanos da ordem Scalabrini e também coordena a RedeMIR, uma rede nacional de 60 organizações que operam em todo o Brasil para apoiar refugiados e migrantes.
Milesi foi nomeado ao lado de quatro vencedores regionais: a ativista burkinabe Maimouna Ba, que ajudou crianças deslocadas a voltar à escola, o empresário sírio Jin Davod, cuja plataforma conecta sobreviventes de traumas com terapeutas, Nada Fadol do Sudão, que mobilizou ajuda para centenas de famílias refugiadas que fugiram para o Egito, e Deepti Gurung, do Nepal, que fez campanha para reformar as leis de cidadania do Nepal depois que suas filhas se tornaram apátridas.
O Prêmio Nansen foi criado em 1954 em homenagem ao humanitário, cientista, explorador e diplomata norueguês Fridtjof Nansen.
Milesi, o segundo brasileiro a ganhar o prêmio, junta-se a uma longa lista de ilustres laureados globais, incluindo a instituição de caridade Medecins Sans Frontieres (Médicos Sem Fronteiras, conhecidos pelas iniciais francesas MSF) e a ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Os prêmios serão entregues em Genebra no dia 14 de outubro. Milesi receberá US$ 100 mil para financiar um projeto que complemente seu trabalho. Os vencedores regionais recebem US$ 25.000 cada.